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Privatização provoca primeira pane nos telefones do Rio e de São Paulo

Os jornais procuraram minimizar o fato, mas a verdade é que a bagunça nas comunicações brasileiras, provocada pela privatizaçãoda Telebrás, causou em 11/08/98 a primeira daquilo que poderá se transformar numa série de panes de nosso sistema. Segundo o Correio Braziliense de 12/08/98, "um congestionamento nas linhas de telefones interurbanos para o Rio de Janeiro e São Paulo ontem entre 11h e 12h atrapalhou a vida de várias pessoas".

"Uma gravação da Embratel pedia que o usuário voltasse a chamar mais tarde. Segundo a Embratel, responsável pelas ligações de longa distância, não houve falha no sistema da própria operadora. O congestionamento ocorreu em centrais telefonônicas locais, no Rio e em São Paulo, obrigando a Embratel a bloquear algumas chamadas para estas cidades. Nas centrais ocorrem as conexões entre as duas linhas - a de origem e a que recebe - por meio de chaves eletrônicas. Neste ano, segundo a Embratel, houve só uma situação de congestionamento, há cerca de um mês, quando um trator rompeu acidentalmente o cabo de fibra ótica da operadora que liga São Paulo ao Rio.

FHC entregou a Telebrás
O Governo Fernando Henrique Cardoso "vendeu" todo o nosso sistema de telecomunicações, ao que diz, por R$ 22 bilhões.  Este dinheiro, que corresponderia, se realmente existisse, à construção de 22 mil escolas de tempo integral, ou de 22 mil hospitais, não vai porém para nenhuma obra social. Vai tudo para tapar o buraco da dívida, que os próprios tecnocratas criaram. Nada ficará aqui, pois vai tudo para o estrangeiro, como a própria equipe econômica já se adiantou em esclarecer.

Além do mais, a tal compra é toda de mentirinha, pois o BNDEs já anunciou que vai "emprestar" R$ 35 bilhões às empresas compradoras, quase dois terços dos quais são estrangeiros. Serão juros subsidados e com prazos a perder de vista. É um dinheiro que deveria ser usado para construir casas, escolas, hospitais e proteger o desemprego. A TV, o Rádio e os Jornais, que ratearam as teles, sob a tutela de gigantescos grupos estrangeiros, estão anunciando que os telefones vão melhorar, ficar mais baratos e acessíveis, além de criar mais emprego.

Não precisa ir muito longe. Se a gente olhar para a Argentina, onde houve o mesmo tipo de privatização, pode-se verificar que a tarifa do telefone quintuplicou (virou falta de educação entrar na casa de um amigo e pedir o telefone, tão alta é a tarifa local) e o desemprego aumentou. O sistema realmente experimentou uma melhora, em vista do caos que havia antes. No Brasil, não tínhamos caos até a privatização, e os telefones funcionam tão bem quanto nos Estados Unidos, à exceção do Rio de Janeiro e alguns poucos Estados, onde a propaganda sucateou a Telerj para jusitificar toda a leiloagem. Quanto aos preços, o Governo Fernando Henrique aumentou a assinatura básica do telefone de R$ 0,61 para R$ 13,00 (Veja histórico).

Infelizmente, o cidadão comum, que só tem acesso à informação da grande imprensa, por não ter outro canal de informação, só vai perceber o prejuízo daqui a algum tempo, quando os serviços começarem a falhar. Vai ser o caso das regiões mais pobres, onde os serviços não derão lucro. E ninguém vai poder reclamar quando as novas tarifas forem efetivadas, não mais a partir de Brasília, mas de Hong Kong, Nova York, Londres...

Mas a Telebrás, que era uma empresa rentável (gerou um lucro de R$ 150 milhões só no ano passado, além de possibilitar a inversão de R$ 18 bilhões no sistema para atualizá-lo) já se foi.Teve a mesma sorte da Vale do Rio Doce, da CSN, da Usiminas e de uma série de hidrelétricas, como a Light e a Eletropaulo. A imprensa diz que estas empresas privatizadas decuplicaram os lucros. Só que ninguém fala que estes lucros são todos mandados para o exterior e não fica aqui no Brasil, a  não ser os passivos, além dos empréstimos fabulosos aos compradores, que em troca se comprometem a financiar a campanha de FHC, cujo Comitê, em Brasília, já emprega 233 pessoas ao preço médio de R$ 7.000,00.

Entrega - A palavra é entregar mesmo, porque a Telebrás, a holding que controla as teles estaduais e a Embratel, não está sendo vendida, mas doada, como foi a Vale. O preço estabelecido de cerca de US$ 13 bi, que caiu de uma previsão inicial de U$ 40 bi, constitui, na verdade, a uma ficção fiscal. É que grande parte deste montante virá de papéis com valores superdefasados, as chamadas "moedas podres", e o BNDES, como ocorreu na "venda" da Vale, deverá "financiar os pagamentos". O dinheiro vivo, que girará em torno de U$ 1 bilhão, não virá para o tesouro, mas para as mãos dos negocistas, a maioria financiadores da campanha de reeleição do Sr. Fernando Henrique Cardoso.

A operação é feita debaixo de um fabuloso aparato de publicidade, que vem martelando a cabeça do brasileiro há quase 10 anos, tendo como argumento principal a promessa de que a aquisição de telefones será automática, e que os preços vão baixar. Por sua vez, a publicidade não se limita a anúncios sofisticados ou promessas mirabolantes, mas ao desmantelamento de algumas teles importantes, como a Telerj, sempre apontada como exemplo do mal serviço estatal.

A recente aquisição da chamada Banda B da telefonia celular veio reforçar a publicidade, porque proporcionou uma queda eventual nos preços e o aumento da oferta de telefones. Só que isto é igualmente enganoso, porque as provedoras dos celulares-B utilizam gratuitamente os serviços da Embratel. Em Brasília, os usuários da Americel, primeira empresa a comprar a Banda B, sofreram na carne a "redução" dos preços. Primeiro porque os celulares só funcionavam em ligações locais, depois porque a empresa começou a cobrar quantias vultuosas por serviços paralelos como secretária eletrônica, BINA etc.

Mas isto é "café pequeno" diante dos problemas que advirão da compra total das teles, como ocorreu agora, se o Brasil não puder se levantar e interditar essa operação. Na Argentina, depois de privatizada a telefonia nacional, o preço dos telefones subiu 500%. As regiões mais pobres, que não dão lucro, ficaram abandonadas (coitada de nossa população do Norte e do Nordeste!).

Os preços serão fixados em dólar, não mais em Brasília, mas em Hong Kong ou Nova York, porque a maioria das "compradoras" são multinacionais. E elas não vão levar em conta contingências sociais ou nosso desenvolvimento interno, mas a chamada "realidade do mercado internacional" (ou seja, onde houver mais rendimento comercial).

Foi por essas e outras razões que Leonel Brizola encampou, em 1961, a ITT, e iniciou no Brasil o processo de nacionalização do sistema de telefonia, que depois chegou a ser um dos mais sofisticados do mundo, e então passou a ser sucateado pelos defensores da privatização. Mas nem tudo está perdido, porque a chapa Lula-Brizola é a única esperança para fazer recuperar os prejuízos e recolocar o Brasil nos rumos de um verdadeiro desenvolvimento, voltado para sua gente, e não para o grande capital.

Mudar ou perecer

(Artigo de Leonel Brizola sobre a convenção)


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